O único propósito deste blog continua sendo o mesmo desde seu início; o de divulgar poesia. No começo eu entendia que era interessante publicar a esmo poetas e poemas, sem me preocupar muito em estabelecer certas divisões. Talvez eu estivesse errado. Portanto, mudei o perfil do blog. Agora estamos com um menu de poetas e dentro de cada um seus poemas conhecidos ou não. Não sei se a mudança será boa. Espero que sim!

Gonçalves Dias


A Leviana

Souvent femme varie, Bien fol est qui s'y fie. 
                                                  (Francisco I)

És engraçada e formosa
     Como a rosa,
Como a rosa em mês d'Abril;
És como a nuvem dourada
     Deslisada,
Deslisada em céus d'anil.

Tu és vária e melindrosa,
     Qual formosa
Borboleta num jardim,
Que as flores tôdas afaga,
     E divaga
Em devaneio sem fim.

És pura, como uma estrêla
     Doce e bela,
Que treme incerta no mar;
Mostras nos olhos tua alma
     Terna e calma,
Como a luz d'almo luar.

Tuas formas tão donosas,
     Tão airosas,
Formas da terra não são;
Pareces anjo formoso,
     Vaporoso,
Vindo da etérea mansão.
Assim, beijar-te receio,
     Contra o seio
Eu tremo de te apertar;
Pois me parece que um beijo
     É sobejo
Para o teu corpo quebrar.

Mas não diga que és só minha!
     Passa azinha
A vida, como a ventura;
Que te não vejam brincando,
     E folgando
Sôbre a minha sepultura.

Tal os sepulcros colora
     Bela aurora
De fulgores radiante;
Tal a vaga mariposa
     Brinca e pousa
Dum cadáver no semblante.

(GONÇALVES DIAS. Cantos de Amor. Prefácio e notas de M. Nogueira da Silva. Rio de Janeiro. 1937)

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